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Santa Bárbara,27/09/2024

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Seca prolongada é alerta para a o abastecimento de água em São Paulo, Campinas e Piracicaba

Fonte: Redação
Seca prolongada é alerta para a o abastecimento de água em São Paulo, Campinas e Piracicaba Plantar florestas e melhorar as práticas de uso do solo são ações mais urgentes (imagem ilustrativa)


Plantar florestas e melhorar as práticas de uso do solo em áreas do Sistema Cantareira são ações ainda mais urgentes 

O Sistema Cantareira opera com 51,5% de sua capacidade, uma queda significativa em relação ao ano anterior, quando o nível estava em 67,4%. Em maio de 2023, após o fim da estação das chuvas, o Sistema atingiu seu maior nível em 12 anos, chegando a 85,9%. No ano passado o volume de chuvas foi generoso, este ano nem tanto. A última vez que o Sistema Cantareira chegou a 100% de sua capacidade foi em 2010. Ao longo dos últimos 13 anos, as variações têm revelado a baixa resiliência do Sistema – sua capacidade de se recuperar de eventos climáticos extremos, como secas prolongadas.


Fonte: IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas. Dados SABESP (2024)


Foi o que aconteceu em 2014 e 2015, quando as chuvas de verão esperadas para recarregar o Sistema não vieram. O nível caiu a índices negativos, e foi preciso utilizar a água abaixo do nível das comportas, o chamado volume morto. Além da redução de quantidade e qualidade da água, seus custos são maiores, pois ela precisa ser bombeada para chegar as infraestruturas de abastecimento público. 


Em maio deste ano a contribuição proveniente da interligação do Sistema com a bacia do rio Paraíba do Sul, proveniente do reservatório da Usina Hidrelétrica Jaguari, voltou a operar. A interligação construída durante a crise hídrica estava suspensa desde dezembro de 2022. Com a precipitação acumulada durante a estação seca de apenas 32% da média histórica, as projeções para 2025 são preocupantes. Caso as chuvas fiquem 25% abaixo da média, o Sistema Cantareira permanecerá em estado de "atenção" com 42% de sua capacidade. Se a redução for de 50%, o nível poderá cair para 25%, classificando-se em estado "restrito", segundo boletim de monitoramento do CEMADEN (Situação Atual e Projeção Hidrológica para o Sistema Cantareira).   

 

Dados de volume de chuva esperados e reais apresentam cada vez maior discrepância. Fenômenos como o El Niño e La Niña também impactam a imprevisibilidade em relação a chuva esperada. Este ano já é possível observar os efeitos da intensidade e prolongamento da estiagem no aumento do número de incêndios do último mês.  As altas temperaturas batem recordes históricos, impactando o consumo de água e o ciclo hidrológico. 

Fonte: IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas. Dados SABESP (2024)

Fonte: IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas. Dados CIIAGRO (2024).

Em um cenário de Mudanças Climáticas, é preciso estar preparado frente aos crescentes riscos e incertezas meteorológicas.  O Sistema Cantareira não é formado apenas por seus 5 reservatórios interligados, mas por uma área de 2.278 quilômetros quadrados que se estende ao longo de 12 municípios. A água que abastece os reservatórios tem origem nas várias nascentes localizadas em pequenas propriedades rurais, que, em muitos casos não possuem vegetação nativa em áreas prioritárias para a recarga hídrica, além de estarem atreladas às práticas produtivas pouco conservacionistas, ocasionando processos erosivos e degradação ambiental. 


A chave para a segurança hídrica está no solo 


Não bastar torcer pela chuva. A segurança de abastecimento para mais de 12 milhões de pessoas nas Regiões Metropolitanas de São Paulo, Campinas e Piracicaba está na promoção de Usos do Solo que favoreçam a recarga hídrica subterrânea. Para evitar novas crises é crucial pensar no longo prazo e agir imediatamente. 

 

Solos conservados possuem a capacidade de fornecer água e amortecem os efeitos das Mudanças Climáticas. Solos de florestas têm potencial de recarga hídrica 350% maior quando comparado às áreas de pastagem extensiva. Este foi o resultado do estudo realizado em colaboração entre cinco instituições de pesquisa “Interações entre uso da terra e tipo de solo determinam funções do solo, destacando potencial de recarga hídrica, no Sistema Cantareira, Sudeste do Brasil”, publicado na revista Science of the Total Environment, em dezembro de 2023. A coleta de amostras foi realizada em propriedades rurais parceiras do Projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. O projeto aplica Soluções Baseadas na Natureza para a conservação da água, da biodiversidade e redução dos impactos das Mudanças Climáticas no Sistema Cantareira. 

 

“A restauração florestal e transição para Sistemas Produtivos Sustentáveis nas propriedades rurais aumentam a permeabilidade do solo, facilitando a infiltração de água e o armazenamento e estoque de água no solo, mantendo a água por mais tempo na região. Isso é crucial para o fortalecimento da resiliência hídrica do Sistema.” explica Paulo Ferro, Técnico Extensionista do Projeto Semeando Água. 

 

Os problemas de escassez hídrica, excesso de carbono na atmosfera, e poluição das águas são consequência de ações de muitos anos. O que podemos fazer hoje é garantir o plantio de florestas nos locais onde elas precisam estar, ou seja, nas áreas prioritárias para a recarga hídrica - entorno de nascentes, rios, copos d’água e topos de morro. Por este motivo estas áreas são consideradas pelo Código Florestal Áreas de Preservação Permanente. Em um bioma altamente desmatado, como é o caso da Mata Atlântica, as matas ciliares têm ainda o potencial de funcionarem como corredores ecológicos. 

 

“Para uma floresta chegar até o ponto de cumprir com quantidade e qualidade os serviços ecossistêmicos tão necessários, ela precisa estar madura. As florestas jovens são muito importantes, principalmente na absorção de carbono, mas as maduras muito mais. Em relação a infiltração de água do solo, a capacidade de sustentar a biodiversidade, garantir as espécies de fauna presentes dentro desses fragmentos, ele precisa ter uma composição, uma estrutura avançada no sentido de ter condições para essas espécies, tanto de plantas quanto de animais, se desenvolverem. E isso leva tempo.” explica Gustavo Brich, Técnico Extensionista do Projeto Semeando Água. 

 

Plantar florestas é a resposta para fortalecimento da resiliência hídrica 


Desde 2012, o Sistema Cantareira enfrenta condições críticas de seca hidrológica, variando de fraca a excepcional, segundo CEMADEN. O alerta não é apenas sobre uma crise hídrica iminente no próximo ano, mas sobre a necessidade e urgência de soluções que tragam segurança de abastecimento no longo prazo. Para que o Sistema Cantareira esteja adaptado aos efeitos dos extremos climáticos que se intensificarão nos próximos anos, o plantio de florestas precisa ser realizado no curtíssimo prazo. 


“Fortalecer a resiliência de sistemas de abastecimento depende de ações de conservação de solo em larga escala. Este é o papel da restauração ecológica, apoiar os processos de regeneração da natureza, para que ela possa fornecer os serviços ecossistêmicos que necessitamos para sobreviver, como, por exemplo, a regulação do ciclo hidrológico. A transição para Sistemas Produtivos Sustentáveis em propriedades rurais, que favoreçam a infiltração, também é de extrema importância, já que pastagens degradadas correspondem a cerca de 50% do uso do solo na região” explica Alexandre Uezu, coordenador do Projeto Semeando Água. 


Florestas podem ser destruídas em poucas horas, mas levam dezenas de anos para se reconstituírem. A natureza funciona no longo prazo. Os extremos climáticos deste ano mostram que já não temos tempo. O tempo de plantar é agora. 




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