A proibição de celulares nas escolas tem ganhado o centro das discussões desde que o Ministério da Educação anunciou, para este mês, a criação de um projeto de lei abrangendo o ensino público e o privado. O desenvolvimento das estruturas de inteligência da criança, uma questão que possui uma estreita relação com essa discussão, inspirou uma trilogia publicada pela Editora Adonis. Com três livros, a ‘Coleção Três Meninos’ foi escrita pela doutora em Educação, Ana Lúcia P. de Camargo, e é composta pelos títulos ‘O menino Rafael: há tempo para tudo’, ‘O menino Artur: há explicação para tudo’ e ‘O menino Felipe: há espaço para tudo!’, todos ilustrados por Paulo R. Masserani. 

Por meio da literatura infantojuvenil e da contribuição das pesquisas que a autora realiza na área de Educação, a coleção visa ajudar pais e filhos, e também educadores, a construírem as estruturas infralógicas, que tratam das noções de espaço, tempo e causa e que são adquiridas em brincadeiras e experiências com o mundo real, através dos meios físico e social. As publicações abordam a necessidade da vivência, da exploração e da interação da criança com o mundo. “Não se trata de ser contra os aparelhos. A era virtual é uma realidade. Mas ficamos preocupados com as crianças em frente às telas, a todo momento”, explica. “Porque o conhecimento se dá a partir da interação da criança, tanto com pessoas como objetos, com os quais são e stabelecidas relações chamadas de lógico-matemáticas, que são a base da inteligência”, complementa. 

A noção de espaço, tratada por meio do menino Felipe, foi objeto de estudo no Mestrado e Doutorado da escritora. “A noção de espaço, por exemplo, é construída, brincando. Crianças que não desenvolvem isso, muitas vezes pela exposição excessiva às telas, não têm noção de perspectiva, de medida, de reta… E, com isso, apresentam dificuldade de aprendizado, porque isso não foi explorado”, destaca. 

A trilogia também aborda as questões de tempo, por meio do personagem Rafael, e causalidade (explicação), por meio do garoto Artur. “Sem essas noções, as crianças não conseguem organizar o real. Elas precisam construir conhecimento pelo seu desenvolvimento espontâneo. Brincando, trazem soluções pra viver neste mundo”, explica. “O trabalho, quando criança, é o brincar, como já dizia Piaget”. 

Sobre a escritora 

Pedagoga e especialista em relações interpessoais, Ana Lúcia P. de Camargo possui Mestrado e Doutorado em Educação pela Unicamp. É também pesquisadora do Laboratório de Psicologia Genética (LPG – Unicamp).